OCORRÊNCIA E IDENTIFICAÇÃO
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Apesar da ocorrência
de bactérias endofíticas em diferentes plantas , pouco se sabe
sobre sua identidade, diversidade e níveis populacionais nos
diferentes tecidos. As bactérias endofíticas provavelmente desenvolveram
íntima relação com sua planta hospedeira através de processos
coevolucionários e podem influenciar a fisiologia da planta
de alguma forma ainda não elucidada (Misaghi & Donndelinger,
1990).
Um dos trabalhos pioneiros no estudo das bactérias endofíticas
foi realizado por Colombo(1978), no qual relatou a ocorrência
de bactérias endofíticas no talo de algas, entre sifões e dentro
dos filamentos cenocíticos. Este autor sugeriu a ocorrência
de um equilíbrio fisiológico entre a bactéria e seu hospedeiro.
Supondo ainda, que o fato dos endofíticos se encontrarem próximos
aos cloroplastos e nas zonas mais jovens dos talos, indicaria
uma ligação com a atividade fotossintética da alga e sua provável
dependência de oxigênio.
Entretanto, a partir dos anos 80, os trabalhos se tornaram mais
frequentes. Becking (1984) identificou características morfológicas
dos nódulos de raízes de Dryas e Rubus (ROSACEAE),
descrevendo as estruturas do endófito Frankia, tais como estruturas
semelhantes a esporos, por meio de micrografias eletrônicas
de transmissão.
Outros trabalhos abordando a forma de ocorrência dessas bactérias
endofíticas, empregando métodos e técnicas mais aperfeiçoadas
de estudo e análise foram realizados, como o de Jacobs et al.
(1985), onde os autores enumeraram, localizaram e caracterizaram
bactérias endofíticas de raízes de beterraba açurareira utilizando
técnicas imunológicas e microscopia eletrônica de varredura
e, desta forma, verificando um aumento na população de bactérias
nas regiões centrais e periféricas da raiz. Os autores sugeriram
que as regiões de maior ocorrência constituem uma rota de colonização
das bactérias. Os mesmos autores relataram ainda a ocorrência
de um grande número de diferentes espécies, dentre elas: Bacillus
subtilis, Pseudomonas aeruginosa, Corynebacterium
sp, e Erwinia herbicola. Este trabalho, pioneiro
na época, mais uma vez demonstrava a ocorrência de bactérias
não patogênicas estabelecendo uma relação simbiótica intracelular
em raiz de plantas de beterraba.
Ainda dentro deste contexto, McInroy & Kloepper (1991), verificaram
que plantas sadias de milho e algodão contêm uma microflora
bacteriana muito diversificada, sendo o número de gêneros isolados
dos tecidos do caule e da raiz maior que o encontrado na rizosfera
dessas mesmas plantas. Como a população de endofíticos encontrados
em plântulas foi relativamente muito alto tanto nos caules como
em raízes, estes autores sugerem que muitos deles originam-se
da semente, havendo entretanto necessidade de mais estudos sobre
este assunto. Também demonstraram que a população de endofíticos
em hastes de milho, diminui com a maturidade da planta, talvez
devido a um aumento da competição pela falta de nutrientes,
ou ao acúmulo de metabólitos tóxicos. Os gêneros mais comumente
encontrados foram Pseudomonas e Bacillus.
Entretanto, os dados atuais relativos à patogenicidade dos endofíticos
que ocorrem normalmente nos hospedeiros vegetais, se apresentam
controversos. Pode-se visualizar melhor tal fato se forem comparados
os resultados dos autores subsequentes.
Cother & Dowling (1986), estudaram a associação de bactérias
patogênicas com a podridão de bulbos de cebolas e discutiram
o possível papel de bactérias endofíticas no desenvolvimento
dos sintomas de patogenicidade. Após o isolamento de algumas
bactérias endofíticas de tecidos internos de bulbos e a reinoculação
destas em bulbos sadios, em ensaios de patogenicidade, resultava
em isolamento de espécies patogênicas. Além disso, os autores
sugeriram que estes isolados poderiam se tornar patógenos oportunistas
quando da ocorrência de alterações na fisiologia do hospedeiro,
devido, por exemplo, a altas temperaturas durante a maturidade
dos bulbos.
Entretanto, Misaghi & Donndelinger (1990), isolaram bactérias
dos gêneros Erwinia sp., Bacillus sp., Bacillus
pumilus, B. brevis, Clavibacter sp., e Xanthomonas
sp., de raízes, caule e flores de plantas de algodão tanto
crescidas em casa-de-vegetação quanto no campo, em duas diferentes
cultivares. Obtiveram altas freqüências de reisolamento para
Erwinia sp., nos diferentes órgãos, nas duas cultivares
e caracterizaram um mutante resistente a antibiótico para esta
bactéria. Para as outras espécies citadas não foram obtidos
reisolamentos nos mesmos órgãos e nem mutantes. Os endofíticos
isolados ou recuperados não foram patogênicos para as cultivares.
Fages & Lux (1991) estudaram a microflora bacteriana do rizoplano
e de raízes de girassol (Helianthus annus L.) cultivado
em solo do sudeste da França, visando o futuro potencial destes
isolados na promoção de crescimento de plantas. A maioria dos
isolados foram gram negativos e de metabolismo oxidativo, o
que veio confirmar a conhecida capacidade dos gram-negativos
de colonizarem raízes. Os isolados gram positivos pertenciam
a espécie Bacillus cereus, embora as espécies de Bacillus
mais comumente encontradas em associação com raízes de plantas
sejam B. polymyxa, B. circulans e B. macerans.
Entre as espécies mais freqüentemente encontradas estavam Agrobacterium
radiobacter e Pseudomonas vesicularis. Somente quatro
isolados pertencentes a espécie Azospirillum lipoferum,
dentre um total de 45 fixaram nitrogênio (reduziram acetileno).
Fisher et al (1992), isolaram bactérias e fungos endofíticos
de três tipos de tecidos (epiderme e córtex do caule, e folha)
de plantas de milho sadias, e verificaram que as partes das
plantas mais próximas do solo eram mais colonizadas por bactérias
que a parte mais superior das plantas. Em geral, os padrões
de distribuição foram diferentes entre os três tipos de tecidos
estudados, com o córtex e epiderme de caule apresentando freqüências
de colonização quase iguais entre si e as folhas mais colonizadas
que aqueles. Os isolados de bactérias mais comuns encontrados
no córtex do caule foram: Enterobacter agglomerans, Klebsiella
terrigena, Pseudomonas corrugata, P. fluorescens,
P. marginalis e Vibrio sp.
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