Embrapa


Pesquisador da Embrapa alerta sobre o carrapato que pode transmitir a febre maculosa

20.3.2009

Luiz Antonio da Silveira Melo, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP), entomólogo, conhece bem o carrapato-estrela, Amblyomma cajennense.

Ele explica que sua ocorrência pode estar em todas as regiões do país e sua picada, além de produzir intenso prurido no local e lesões na pele, pode inocular a bactéria Rickettsia rickettsii, causadora da febre-maculosa.

“Como esse carrapato é importante para a saúde humana, são frequentes as campanhas públicas de prevenção à doença, porém poucas informações são fornecidas sobre o carrapato vetor”, acredita o pesquisador. Para Melo, “essas informações são muito importantes para evitar a aquisição da doença, que pode atingir a população rural ou urbana”.

Ciclo biológico do carrapato-estrela (ilustração Aragão e Fonseca, 1961)

“O ciclo inicia-se pela larva ou micuim (1) que é um carrapato minúsculo, com 6 pernas, difícil de se ver. Por isto as pessoas são mais picadas nessa fase”, diz. Após alguns dias alimentando-se do hospedeiro (2), as larvas vão para o solo, trocam de pele e passam à ninfa (3), que tem 8 pernas, voltando para o hospedeiro. Nessa fase os carrapatos têm por volta de 4mm de comprimento, são castanho-escuros e facilmente visíveis. Sugam sangue até ficarem “inchados”, voltam para o solo, passam para a fase adulta (4) e retornam à última hospedagem, onde há o acasalamento (5). Depois, o macho morre e a fêmea permanece sugando sangue até ficar ingurgitada (bem gorda), caindo ao solo para fazer a postura (7) que pode ter de 5 mil a 8 mil ovos.

O pesquisador explica que, “para chegarem no hospedeiro, o carrapatos sobem pela vegetação, principalmente em capins e ficam à espera da passagem de um animal ou de uma pessoa, agarrando-se a ela. Na época de grande infestação, podem também chegar pelo chão, subindo pelos pés”.

Os hospedeiros preferidos são os equídeos - cavalos, mulas e outros, mas atacam outros animais como capivara, veado, boi, porco, cão, carneiro, coelho, tatu, gambá, rato, algumas aves, lagartos, cobras e os humanos.

A contaminação pelo agente da febre-maculosa só ocorre se os carrapatos estiverem infectados. Eles são os responsáveis pela manutenção da bactéria na natureza, juntamente com capivaras e outros grupos de mamíferos silvestres. O carrapato fica infectado durante toda sua vida e por muitas gerações, podendo transmitir a bactéria em qualquer fase.

“A transmissão da bactéria se dá após 4 a 6 horas de sucção de sangue. A contaminação pode também ocorrer por lesões na pele, como por exemplo, quando o carrapato é morto por esmagamento com as unhas, prática esta que não deve ser realizada”, enfatiza Melo.

Prevenção ao Ataque

A melhor maneira de prevenir o ataque do carrapato e a doença é evitar o trânsito em áreas visitadas por capivaras - proximidades de rios, córregos, lagoas e áreas de pastejo, principalmente de equinos. Outra forma comum de infestação de carrapatos é nas proximidades de residências, levados por cães que vivem soltos. Nesse caso, a prevenção é pelo tratamento dos animais.

Para o pesquisador, é importante que esses cuidados sejam tomados particularmente nas épocas do ano de maior ocorrência das formas jovens dos carrapatos que, no Estado de São Paulo, vai de abril a setembro, com maiores populações (picos) de larvas em maio e de ninfas em agosto/setembro. Os períodos de incidência estão relacionados a condições de seca e baixas temperaturas (tempo seco e frio) para as formas jovens e de maior umidade e temperatura (tempo úmido e quente) para adultos.

Contudo, há sobreposições das épocas de ocorrência das fases. Por exemplo, em abril, maio e agosto ocorrem larvas, ninfas e adultos; em setembro e outubro há ninfas e adultos e de maio a agosto ocorrem larvas e ninfas. Mudanças climáticas, ao longo dos anos, podem alterar as épocas de ocorrência.

Cristina Tordin
Jornalista, MTB 28499
Embrapa Meio Ambiente