Resultados do evento sobre biossólidos |
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II SEMINÁRIO
SOBRE GERENCIAMENTO DE BIOSSÓLIDOS DO MERCOSUL Por Wagner Bettiol O II Seminário sobre
Gerenciamento de Biossólidos do Mercosul, organizado pela Embrapa Meio
Ambiente, Instituto Agronômico de Campinas e Fundação "André
Tosello", ocorrido de 28 a 30 de setembro de 1999, em Campinas, SP,
apresentou como fato inédito a participação de especialistas de
diferentes áreas de conhecimento. Houve a participação de engenheiros
sanitaristas, agrônomos, florestais e civis, ecologistas, biólogos, médicos,
geólogos, advogados, matemáticos e jornalistas entre outros;
pertencentes a diferentes segmentos da sociedade, como: instituições de
pesquisa, ensino e extensão; empresários; empresas de saneamento, de
meio ambiente, alimentícias, eletrodomésticos e outras; Ministério da
Agricultura; secretarias da agricultura; prefeituras e estudantes entre
outros; num total de 270 participantes. Essa integração de
profissionais de diferentes áreas de atuação foi motivada pelos temas
abordados: tratamento de esgoto, geração e disposição do lodo
produzido; uso agroflorestal do lodo de esgoto e seus impactos ambientais.
A abordagem simultânea das diversas etapas do processo, envolvendo os
mais diferentes especialistas é de extrema importância para o
gerenciamento de lodo de esgoto ou biossólido. Na abertura,. Antonio
Carlos de Mendes Thame, Secretário de Recursos Hídricos, Saneamento e
Obras do Estado de São Paulo, abordou a necessidade do tratamento dos
esgotos domésticos e industriais visando à conservação dos corpos hídricos
e a despoluição dos rios, bem como melhoria na saúde pública. Também
no primeiro dia houve discussão sobre a necessidade de planejamento do
uso de bacias hidrográficas para que todas as atividades nelas
desenvolvidas sejam compatíveis com a manutenção da qualidade e da
disponibilidade de água para o abastecimento público, objetivo
primordial da bacia. Os demais usos devem ser subordinados a esta
prioridade, estimulando atividades ambientalmente adequadas e
economicamente viáveis. Outra discussão na
abertura foi em relação aos dois grandes problemas de caráter mundial
que preocupam a comunidade internacional, e de cujos resultados depende a
sobrevivência humana: a disposição final dos resíduos e a melhoria das
condições ecológicas e ambientais do planeta. Nesse sentido, a União
Européia formulou uma diretiva que proíbe aos países membros a disposição
de resíduos recicláveis em aterros sanitários a partir de 2002. Na
mesma linha os Estados Unidos estabeleceram o prazo limite de 2004. Por
outro lado, os países em desenvolvimento, como o Brasil, convivem com depósitos
desordenados de resíduos. Na sequência foi discutida a geração de lodo
de esgoto nas estações de tratamento de esgoto - ETE, bem como o retorno
ao ambiente desse resíduo e indicando que, sempre que possível, a
reciclagem do lodo de esgoto deve ser priorizada, por representar a
alternativa mais adequada sob o aspecto ambiental e, geralmente, a mais
econômica, pois transforma um resíduo urbano, de disposição problemática,
em um insumo de grande valor para a agricultura, pois o lodo fornece ao
solo matéria orgânica, macro e micronutrientes para as plantas, atuando
como condicionador de solo e fertilizante, e dessa forma contribui para
uma agricultura sustentável. Entretanto, há necessidade do produto
possuir características que garantam a segurança do uso agrícola e
assegurem uma relação duradoura entre as empresas de saneamento -
geradoras de lodo- e os agricultores, potenciais beneficiários da
atividade. Isto se deve, porque o lodo apresenta em sua composição, além
das células microbianas nele desenvolvidas, células de organismos patogênicos
ao homem e metais pesados, portanto com potencial poluidor se não for
disposto adequadamente. E, a disposição final deste resíduo continua
representando um desafio em todo o mundo, que deve ser adequadamente
gerenciada. De forma unânime foi
apontado o uso agrícola como a melhor alternativa de disposição final
do lodo de esgoto, quando esse apresentar características adequadas, isto
é baixos teores de metais pesados e patógenos humanos dentro dos padrões
de qualidade. Entretanto, o lodo de esgoto, quando não apresentar
características adequadas para uso agrícola, poderá ser disposto em
aterro sanitário, incinerado, utilizado em construção civil ou disposto
nos solos em fazendas de lodo. Diversas culturas, entre elas o café, a
cana-de-acúçar, o milho, o arroz, o sorgo, as pastagens, as essências
florestais e árvores frutíferas, entre outras, foram apontadas como as
mais indicadas para uso do lodo de esgoto. Outra indicação foi o uso na
recuperação de áreas degradadas, associada ao plantio de espécies
florestais. Apesar de todas as
vantagens apontadas ficou evidente a existência de grande disparidade do
uso do lodo no Brasil: a CAESB de Brasília, DF, dispõe 100% do lodo de
esgoto na agricultura, enquanto a SABESP dispõe 100% em aterros sanitários.
Entretanto, foi apresentado um levantamento no Seminário mostrando que em
São Paulo, existem cerca de 800 mil ha de reflorestamento, dos quais
cerca de 25% têm condições adequadas de distância da fonte geradora,
tipo de solo, topografia e distâncias dos mananciais hídricos, que
permitem o uso seguro do lodo. Em relação ao
impacto ambiental do uso agroflorestal do lodo de esgoto, ficou evidente a
necessidade de implementar estudos a longo prazo sobre o efeito dos
contaminantes do lodo sobre o ecossistema e em diversas regiões do país.
Essa necessidade é devida à complexidade do assunto. Além disso, esses
estudos podem colaborar para o estabelecimento de uma norma brasileira
sobre disposição do lodo de esgoto na agricultura. Dentro desse aspecto,
um dos temas mais discutidos foi quanto ao risco dos metais pesados
presentes no lodo de esgoto gerado em municípios industrializados. Poderão
ser adotadas filosofias conservacionistas (impacto zero) ou mais liberais,
que permitam o acúmulo no solo, de acordo com as rotas de exposição dos
organismos aos metais. Essas filosofias conduzirão ao estabelecimento de
valores bem diferentes para as quantidades máximas de metais pesados que
poderão ser adicionadas ao solo. No Brasil, há dificuldade em
estabelecer esses limites devido aos poucos dados quanto à
disponibilidade de metais em solos onde o lodo de esgoto foi aplicado. |
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