Em
se tratando especialmente da região Semi-Árida brasileira, há que se
ressaltar o problema relacionado a qualidade das águas que deverão
abastecer uma grande população (VIEIRA, 1996; LÓCIO, 1992). O déficit
hídrico dessa região produz uma taxa de evaporação anual média
superior a 1,5 m de água (SILVA et al., 1984).
WOLFE
et al. (1990) ressaltam que em zonas áridas, onde existe um longo
período de estação seca, podem ser evidenciados danos causados às
culturas por resíduos de herbicidas, que permanecem no solo ( resultados
de aplicações em estações anteriores).
Ressalta-se
também que nessas regiões é comum a prática de aplicações mistas de
agrotóxicos (pesticidas) e outros químicos como fertilizantes, através
dos sistemas de irrigação, onde muitas vezes não são verificadas as
compatibilidade entre os produtos. Tal prática pode gerar reações
indesejáveis entre os produtos e, conseqüentemente contaminações da água
subterrânea. Além disso, os solos arenosos, sob as áreas cultivadas
presentes na região, onde a condutividade hidráulica é amplamente favorável
à lixiviação, torna o problema ainda maior, priorizando a necessidade
de monitoramento da qualidade da água que abastecem as populações
locais.
Os
principais processos que interferem na qualidade da água da região são:
a) eutrofização - gerada pelo aporte de nutrientes utilizados nas
atividades agrícolas (nitrogênio e fósforo) que ocasionam a elevação
populacional de algas, principalmente nos reservatórios (FERREIRA et al.,
1996); b) irrigação - que podem elevar os níveis de nitrato (ou sua
lixiviação para águas subterrâneas), alterar a relação
Carbono/Nitrogênio (C/N) e a Capacidade de Troca Catiônica (CTC)
(PEREIRA & SIQUEIRA, 1979); c) salinização - decorrente do manejo
inadequado da água de irrigação e das características climáticas e
hidrogeológicas da região; d) contaminações: por agrotóxicos, metais
pesados e dejetos e efluentes. Assim, particularmente nessa região, a
postura de tratar a água como "commodity" deve se consolidar
ainda com maior relevância, sendo fundamental o monitoramento de sua
qualidade e disponibilidade. A necessidade de conhecer a qualidade e
monitorar a poluição das águas superficiais e subterrâneas prevê as
seguintes prioridades: saúde humana, segurança e o bem estar da
população, da biota, das condições sanitárias e a qualidade dos
recursos ambientais .
A
disponibilidade de água superficial nessa região (área de estudo do
Projeto Ecoágua) está representada pela Bacia do Rio Capim (PA) à Bacia
do Rio Coruripe (1.328mm/ano), Bacia do São Francisco (2850 mm/ano) e
pela Bacia do Rio Japaratuba (SE) à Bacia do Rio Pardo (BA) (895 mm/ano).
Deve-se destacar que as bacias da Região Nordeste ainda apresentam uma
oferta potencial de água altamente significativa por meio da construção
de barragens em locais apropriados (SUDENE.BRASIL, 1978; SUDENE.BRASIL,
1980; ).
Os
sistemas aqüíferos que integram essa região é apresentado a seguir,
resultante de análise do Mapa Hidrogeológico do Brasil (SUDENE.BRASIL,
1980).
Sistema
aqüífero do Parnaíba
A
bacia sedimentar do Parnaíba é a principal da região do nordeste
brasileiro. Os principais sistemas aqüíferos (SDsg: Serra Grande, Dc:
Cabeças e Cpi: Piauí) correspondem aos sedimentos paleozóicos, constituídos,
em geral, por arenitos médios e grosseiros predominando sobre siltitos,
folhelhos, ardósios ou calcários. Outros sistemas aqüíferos são
encontrados em sedimentos mesozóicos (PTRm: Motuca, Jc: Corda e Ki:
Itapecuru) e Cenozóicos (TQb: Barreiras), onde predominam arenitos ou
areias finas sobre outras rochas. Um grupo de aquíferos, de importância
apenas local e restrita, é formado por sedimentos de diversas idades geológicas
(DC1: Longá, Dp: Pimenteiras, Ppf: Pedra de Fogo, Kco: Codó e Qca:
sedimentos coluvio-aluviais) com predominância de folhelhos e/ou siltitos
sobre areias e/ou arenitos e outros. A alternância de cama das permeáveis
e menos permeáveis, com mergulhos dirigidos para interior da bacia,
condiciona a ocorrência de águas livres, sob pressão e artesianas,
permitindo uma exploração através de poços tubulares de geralmente,
menos de 100 a 250m de profundidade e vazões na faixa de 5 a 50m /h.
Alguns poços profundos (até 1.000m em certas áreas) fornecem maiores
vazões. Entretanto, com a profundidade e em direção ao interior da
bacia, ocorre uma salinização progressiva das águas subterrâneas.
Sistema
aqüífero do São Francisco
Predominam
os aqüíferos restritos às zonas fraturadas em quartzitos, metagrauvacas,
metaconglomerados calcários e dolomitas de idade proterozóica superior (PEcp:
Chapada Diamantina e PEb: Bambu;). Os aqüíferos tornam-se mais amplos
quando ocorrem associados com rochas porosas do manto de intemperismo, ou,
em caso dos calcários ou dolomitos, onde a dissolução cárstica atuou.
Poços tubulares de 60 a 200m de profundidade fornecem vazões da ordem de
l0 m3/h. Outro sistema aquífero é encontrado nas coberturas de extensão
regional formados por sedimentos mesozóicos, Ku: Urucuia ( Areado + Mata
da Corda), que consistem de arenitos finos predominantes sobre argilitos e
conglomerados. A condição morfológica de tabuleiro elevado, a litologia
fina e as espessuras restritas das camadas, restringem o potencial
exploratório do aqüífero que, no entanto, ocupa uma função reguladora
importante para o escoamento do trecho médio do rio São Francisco.
Sedimentos aluviais (QCa) e coluvio-aluviais (Qca) compostos por arenitos,
limos, areias e cascalhos proporcionam bons e razoáveis aqüíferos.
Coberturas terciários-quaternárias (TQd1) de areias e areias argilosas,
formam aqüíferos locais restritos.
Sistema
aqüífero do Escudo 0riental
Consta
de duas subprovíncias (Nordeste e Sudeste) onde predominam rochas
cristalinas (gnaisses, xistos, migmatitos, granitos, quartzitos entre
outras), sendo os aqüíferos restritos às zonas fraturadas. Na Sudeste,
as condições climáticas propiciam um manto de alteração que pode
atingir várias dezenas de metros de espessura, favorecendo melhores condições
hídricas subterrâneas (vazões médias de poços de 10,0m /h). 0 limite
econômico de perfuração nesta região situa-se em torno de 150m de
profundidade, enquanto na do Nordeste o mesmo é de aproximadamente 60m.
Na última região, as vazões dos poços são bastante modestas (a
capacidade específica sendo inferior a 0,13m3/h/m, em média), enquanto
que as águas do subsolo são, em geral, salinizadas (valores totais de
sais dissolvidos-TSD, variam de 500 a 35.000 mg/l).
As
atividades agroindústrias realizadas ao longo dos anos nas bacias hidrográficas,
responsáveis pela recarga destes sistemas de aqüíferos, vem causando
interferência nos sistemas de drenagem superficial dos Hidropólos,
alterando os canais fluviais e retirando a cobertura vegetal ripariana,
causando, dessa forma, desbalanço hídrico e aumentando a probabilidade
de contaminação química.
Os
detritos industriais afetam substancialmente a qualidade da água. As partículas
provenientes dos efluentes das fábricas percorrem o rio até sua deposição
no leito.
Estas
situações, freqüentemente observadas, expõem a um maior risco os
organismos aquáticos e o funcionamento dos agroecossistemas.
A
viabilização do suprimento adequado de água em propriedades rurais do
semi-árido já foi amplamente discutida e testada por pesquisadores da
EMBRAPA (Captação e conservação de água de chuva no semi-árido
brasileiro - cisternas rurais II: Água par consumo humano (SILVA et al.,
1988); Cisternas rurais (SILVA et al., 1984); Barragem subterrânea I:
construção e manejo (BRITO et al., 1989). Os primeiros dois trabalhos
demonstraram ser possível cobrir as necessidades mínimas de água de famílias
rurais com água pluvial, mesmo em anos de estiagem severa.
O
controle de material oriundo de fonte pontual é relativamente simples
pois depende somente da instalação de uma planta de tratamento que
produza efluente compatível com a qualidade da água do receptor.
Provavelmente as atividades agropecuárias dominem a emissão de
nutrientes pelas fontes difusas e sejam as maiores emitentes de material
particulado (solo) que assoreia rios e reservatórios. A redução de
contaminação dos recursos hídricos de superfície da bacia com material
oriundo da erosão de áreas utilizadas na produção agrícola e na pecuária
depende da melhoria no manejo dos sistemas de produção e do
estabelecimento de cordões de vegetação que funcionem como filtros para
evitar que o material transportado pelo escorrimento superficial atinja os
cursos d'água, entre outros.
Os
dessalinizadores de água, que estão sendo largamente difundidos no
nordeste separam o sal da água resultando na produção de um volume
relativamente significativo de rejeito que corresponde a cerca de 50% do
volume de água bruta. O lançamento desse material no meio ambiente, sem
cuidados especiais, pode gerar a degradação permanente da área, uma vez
que o material apresenta cerca de 8 gramas/litro de sal, sendo que alguns
dos componentes (sais de cálcio e magnésio, principalmente) estão perto
do ponto de saturação. Dessa forma, é imprescindível a proposição de
medidas que tratem desse resíduo, assim como de outras tecnologias
mitigadoras para a região.
Cabe ressaltar ainda que os produtores rurais da
região, tradicionalmente escolhem os agrotóxicos baseados na eficácia e
no preço do produto. A prevenção da contaminação de águas por agrotóxicos
requer a identificação dos principais produtos utilizados e o
entendimento de como esses produtos se comportam nos solos da região
semi-árida e atingem os recursos hídricos superficiais e subterrâneos.
TABELA
1. População
total, população urbana e rural, domicílios particulares urbanos e
rurais e número de casas isoladas urbanas e rurais dos hidropólos
TABELA 2. Abastecimento
de água (sem canalização/urbano e rural), fonte hídrica (poço) para
consumo humano (c/s/canalização), fossa rudimentar e destino do lixo
domiciliar nos hidropólos
TABELA
3. Indicadores
de risco da qualidade das águas superficiais e subterrâneas e Estimativa
da população a ser beneficiada pelo Projeto Ecoágua
|