Embrapa


Tecnologias econômicas e eficientes garantem a eliminação definitiva do brometo de metila da agricultura brasileira

15.01.2007

Uma iniciativa inédita beneficiará a agricultura brasileira a partir de 2007. O brometo de metila - BM, utilizado em culturas de fumo e plantas ornamentais, entre outras, não poderá mais ser usado na desinfestação de solo ou substrato.

A Instrução Normativa Conjunta 01 de 10 de setembro de 2002 do Mapa estabeleceu o prazo de 31 de dezembro de 2006 para o uso do BM em sementeiras de hortaliças e flores, proibindo seu uso a partir desta data. Mas os produtores necessitariam de alternativas para desinfestação do solo ou substrato. A alternativa são equipamentos que utilizam o vapor d’água e a energia solar. Para tratamento do solo em canteiros, cerca de 27 caldeiras à lenha e 27 injetores de vapor no solo serão entregues às cooperativas e associações de produtores das principais regiões com cultivo de flores e consumidoras de brometo: Atibaia, Ibiúna, Holambra e Região da Via Dutra, no Estado de São Paulo, e Gravatá, em Pernambuco. O evento para a entrega está marcado às 14h30 do dia 19 de janeiro de 2007, em Atibaia, SP. Posteriormente, cerca de 1.000 coletores solares, técnica desenvolvida pela pesquisadora Raquel Ghini da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP), unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Mapa serão doados aos produtores de flores ainda este ano.


Injetor de vapor no solo para canteiros.
Foto: Mauricio Torres


Coletor solar para desinfestação de substratos para mudas de plantas.
Foto: Eliana Lima
“Altas temperaturas (cerca de 70 a 80 graus centígrados) são conseguidas com injeção de vapor no solo ou utilização de energia solar. Além de mais eficazes e baratos, estes sistemas não trazem riscos à saúde humana e ao meio ambiente, como o BM”, diz o diretor do Projeto no Brasil, César Mauricio Torres Martinez. “No tratamento de substratos serão usados coletores solares, que utilizam energia solar para desinfestar misturas de solo em viveiros de plantas, a fim de se produzirem mudas saudáveis e livres de microrganismos prejudiciais ao seu desenvolvimento”, confirma Raquel.

A iniciativa é da UNIDO (Organização para o Desenvolvimento Industrial das Nações Unidas). De acordo com Raquel, tudo começou em 2004, quando a UNIDO realizou um estudo sobre o consumo remanescente de brometo de metila no Brasil, por meio de consultoria realizada pela Embrapa. A partir disso, foi verificado que, após a eliminação na cultura do fumo, o cultivo de flores destacava-se como principal usuário do agroquímico. Com recursos de 2 milhões de dólares do Fundo Multilateral do Protocolo de Montreal e o objetivo de eliminar mais de 165 toneladas de BM utilizadas em flores e mais de 60 utilizadas em outros cultivos, como o morango, iniciou-se o projeto no Brasil. O cronograma do Programa Nacional de Eliminação do Brometo de Metila - PNB estabeleceu as datas de 31/12/2004 para eliminação na cultura do fumo; 31/12/2006, para flores, hortaliças e formigas; e 31/12/2015, para tratamentos fitossanitários e quarentenários (Instrução Normativa Conjunta 01 – 2002/2003 do Mapa, Anvisa e Ibama).

De acordo com Martinez, os equipamentos, adquiridos por meio de licitações internacionais promovidas pela própria UNIDO, após análise dos termos de referência pelo governo brasileiro (Ministérios do Meio Ambiente e das Relações Exteriores), são capazes de tratar 100 m² de solo a cada 1 hora. Após dois dias, o solo está pronto para novo plantio. “Outro fator importante é a redução nos custos do tratamento, pois a mesma quantidade de solo tratado com este sistema de injeção de vapor custa 50% menos que o custo do tratamento com BM”, informa ele. Comparativamente também e de acordo com o Painel de Avaliação Científica do Protocolo de Montreal, “cada átomo de bromo do brometo de metila que alcança a estratosfera destrói 60 vezes mais ozônio do que os átomos de cloro dos CFCs (clorofluorcarbono). Daí a importância da erradicação da utilização deste gás na agricultura”, salienta o diretor.

“Trata-se de uma iniciativa inédita na agricultura brasileira, que tem por finalidade beneficiar todo o planeta”, complementa Raquel. O Brasil aderiu ao Protocolo de Montreal em 1990 e, assim, se comprometeu a eliminar a utilização no país de produtos que destroem a camada de ozônio da Terra. “A seleção de métodos alternativos de tratamento desenvolvidos na região (coletores solares no Brasil e caldeiras/injetores de vapor na Argentina) facilita a aceitação por parte dos agricultores, garante o sucesso do projeto, além de valorizar a pesquisa científica desses países”, completa a pesquisadora.

Brometo de metila (BM)

O BM é um gás que age como inseticida e fumigante, muito utilizado na desinfestação de solo e substrato, controle de formigas e fumigação de produtos de origem vegetal. Serve para evitar que pragas e doenças sejam disseminadas para outras cidades ou países, quando os produtos são exportados/importados, ou para "limpar" o solo para desenvolver o plantio. O produto mata os insetos, os patógenos (nematóides, fungos e bactérias), ervas daninhas e qualquer outro ser vivo presente no solo e na zona de penetração do gás, seja ele benéfico ou maléfico à agricultura.
A fim de minimizar os danos causados à camada de ozônio, foi assinado em 1990 o Protocolo de Montreal, um tratado internacional para eliminação de substâncias nocivas a esta, como o BM. Na assinatura mais de 180 países se comprometeram a diminuir o uso destes produtos. O Brasil foi um dos países que aderiram ao tratado, assumindo o compromisso de reduzir em 20% o consumo (médio entre 1997 a 1998) até o ano de 2005 e erradicar o uso até 2015.

Além dos equipamentos, os produtores receberão também na semana de 14 a 19 de janeiro capacitação sobre segurança na operação destas caldeiras, por meio de um técnico em manutenção e treinamento de manejo integrado com o acompanhamento de um agrônomo, com a finalidade de garantir o sucesso na substituição do método de tratamento de solo.

O evento será na sede da Proflor, à Rua Eurico Souza Pereira, 142 – Bairro Alvinópolis em Atibaia, SP.

Saiba mais sobre o coletor solar

É um equipamento de funcionamento simples e construção barata, que tem por finalidade acabar com os fungos, bactérias e algumas plantas daninhas dos solos utilizados para o plantio de mudas produzidas em recipientes como sacos plásticos, vasos ou bandejas, principalmente em viveiros. O coletor solar, que tem as vantagens de ser totalmente seguro aos usuários e de não contaminar quimicamente os solos, desenvolvido por Raquel agradou os produtores que tiveram a oportunidade de ver os experimentos com o aparelho. Trata-se de uma caixa de madeira, com tubos metálicos, que podem ser de ferro galvanizado (calhas de residências) ou alumínio (tubos de irrigação) ou cobre, onde o solo é colocado e uma cobertura de plástico transparente, que permite a entrada dos raios solares.

Segundo Raquel, o mecanismo de funcionamento é o mesmo de um aparelho de energia solar utilizado para aquecer água em residências. O sol bate nos tubos, aquece a terra e os fungos são eliminados pelo calor. "Normalmente, em um dia de sol, a temperatura dentro dos tubos chega a 70 graus, o que é suficiente para matar os fungos mais comuns como Scletorinia sclerotiorum, Sclerotium rolfsii, Verticillium e Rhizoctonia solani entre outros, pois são todos sensíveis ao calor.

A Circular Técnica Coletor solar para desinfestação de substratos para produção de mudas sadias, de autoria de Raquel e editada pela Embrapa Meio Ambiente fala sobre os aspectos práticos do tratamento de solo usando a energia solar para o controle de doenças de plantas e aborda a utilização do coletor solar. A publicação impressa com 29 páginas encontra-se esgotada, porém esta mais sintética com 5 páginas pode ser encontrada para download gratuito no site da Embrapa Meio Ambiente.

Solicite mais informações preenchendo o formulário.

Eliana Lima
Jornalista, MTb 22.047
Embrapa Meio Ambiente