Embrapa


Embrapa vai mostrar estratégias da iLPF na Agrishow

22.04.2014
Nesta 21ª edição da Agrishow a Embrapa, por meio de três Unidades de Pesquisa: Cerrados (Santo Antonio de Goiás, GO), Meio Ambiente (Jaguariúna, SP) e Pecuária Sudeste (São Carlos, SP), proporciona aos produtores a oportunidade de conhecerem de perto a iLPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta) – estratégia de produção sustentável que integra atividades agrícolas, pecuárias e florestais, realizadas na mesma área, em cultivo consorciado, em sucessão ou rotacionado, buscando efeitos sinérgicos entre os componentes do agroecossistema, contemplando a adequação ambiental, a valorização do homem e a viabilidade econômica.
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Foto:Gabriel Faria.
De acordo com o chefe adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Meio Ambiente, Ladislau Skorupa, a estratégia de iLPF, uma vez consolidada, pode se constituir em uma revolução na produção agropecuária, verticalizando a produção e promovendo diversos benefícios, incluindo a redução da pressão de desmatamento para a abertura de novas áreas. “A integração lavoura-pecuária-floresta (iLPF) é uma estratégia de produção que possibilita que atividades agrícolas, pecuárias e florestais sejam conduzidas na mesma área”.

Pelo segundo ano consecutivo a Embrapa apresenta em plots e também em uma área de 16 ha alguns dos arranjos possíveis desta estratégia.

Benefícios da iLPF
A iLPF é uma estratégia que envolve sistemas produtivos diversificados, de origens vegetal e animal, realizados com o objetivo de otimizar os ciclos biológicos das plantas e dos animais, bem como dos insumos e seus respectivos resíduos. Neste evento, o destaque será a apresentação do arranjo pecuária e floresta, incluindo o componente forrageiro e o florestal (eucalipto).

Segundo Skorupa, essa estratégia diversifica a produção no meio rural e contribui para a manutenção das atividades no campo durante todo o ano, fixando a mão de obra, seja na agricultura ou na pecuária. Do ponto de vista técnico, tem um grande potencial para promover melhorias na qualidade física e de fertilidade do solo, além de ofertar diversos serviços ambientais, como a redução da emissão de gases de efeito estufa e a melhoria da infiltração da água no solo.

De acordo com o Marco Referencial de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, publicado pela Embrapa em 2011, a estratégia de iLPF contempla quatro modalidades de sistemas, caracterizados da seguinte forma: integração lavoura-pecuária – agropastoril: sistema que integra os componentes lavoura e pecuária, em rotação, consórcio ou sucessão, na mesma área, em um mesmo ano agrícola ou por múltiplos anos; integração lavoura-pecuária-floresta – agrossilvipastoril: sistema que integra os componentes lavoura, pecuária e floresta, em rotação, consórcio ou sucessão, na mesma área. O componente lavoura restringe-se (ou não) à fase inicial de implantação do componente florestal; integração pecuária-floresta – silvipastoril: sistema que integra os componentes pecuária e floresta em consórcio; integração lavoura-floresta – silviagrícola: sistema que integra os componentes floresta e lavoura, pela consorciação de espécies arbóreas com cultivos agrícolas (anuais ou perenes).

Um exemplo concreto de iLPF
No dia de campo realizado no dia 20 de março deste ano na Fazenda Santa Brígida, em Ipameri (GO), promovido pela Rede de Fomento à iLPF, formada pela Embrapa, John Deere, Cocamar (Cooperativa Agroindustrial do Paraná) e Syngenta, com patrocínio da Caixa e apoio da Universidade Estadual de Goiás (UEG), a proprietária da Fazenda Marize Porto Costa falou da sua experiência a partir de 2006 na implantação da iLPF e da complexidade do sistema. “Ninguém ganha jogo sozinho. Isso aqui é resultado do esforço de um time. O sistema leva a um ganho econômico, mas com certo grau de dificuldades. A exploração é tripla – lavoura, pecuária e floresta, e por isso a gestão é mais complexa”, declarou.

Na opinião do presidente da Embrapa, a Fazenda Santa Brígida é uma vitrine do caminho a ser seguido pela futura agricultura. Essa nova agricultura, como frisou Maurício Lopes, será cada vez mais complexa e baseada no uso inteligente dos recursos naturais. “Vamos ter que enfrentar o desafio da complexidade e construir relacionamentos como esse da Rede de Fomento, entre instituições públicas e privadas”, disse ao considerar que o País está preparado para o que chamou da segunda revolução da agricultura brasileira.

Na primeira estação do dia de campo, o consultor Roberto Freitas apresentou os índices de produtividade da Fazenda Santa Brígida. Na safra 2006/2007, a produção de milho foi de 80 sacas por hectare e de 40 sacas de soja por hectare. Na safra 2011/2012, a produtividade subiu para 180 sacas de milho por hectare e 50 sacas de soja por hectare. A produtividade de carne passou de duas arrobas para 16 arrobas por hectare e a idade de abate, que até 2006 era acima de quatro anos, passou a ser, em média, de três anos. Outro avanço foi o teor de matéria orgânica do solo, que passou de 1,8 % para 2,8%, o que equivale à fixação de mais de 11 toneladas de carbono orgânico por hectare nos primeiros 20 centímetros do perfil do solo.

Os sistemas adotados na Fazenda foram comentados pelos pesquisadores da Embrapa Cerrados, João Kluthcouski e Luiz Adriano Cordeiro. Eles mostraram as diferentes formas de consórcio entre soja e/ou milho com braquiária, como também entre sorgo e braquiária, girassol e braquiária. Entre os novos sistemas estão o sistema Santa Brígida, composto pelo consórcio entre milho, braquiária e guandu-anão; o sistema Vacaria para recuperação de pastagem degradada e manutenção produtiva; e o sistema Santa Ana em que é formado um banco de semente de braquiária.

O componente arbóreo foi abordado pelo consultor Wanderley Oliveira, que o comparou com uma “poupança verde” dentro da propriedade. Além das vantagens como conforto animal e reciclagem de nutrientes, a floresta é uma renda extra ao produtor.  Oliveira ressaltou que o eucalipto só vem a agregar, desde que se pense na finalidade em função do mercado da região da propriedade. Na Santa Brígida, a expansão do componente florestal tem sido progressiva. No início foi plantada uma área de quatro hectares, na safra 2010/2011 já eram mais de dez hectares e atualmente são contabilizadas mais de 51 mil árvores de eucalipto na fazenda.

A integração Lavoura-Pecuária (iLP) permite pasto verde em período de seca e a formação do “boi safrinha”. O consultor William Marchió explicou que em função do resíduo de adubo no solo utilizado no período da lavoura, o pasto no período de seca se torna tão bom quanto o pasto de verão. Além desse benefício, o custo de produção de arroba é menor. Na pecuária tradicional, o custo de produção da arroba é estimado em R$ 73,00, enquanto que no sistema iLPF é de R$ 37,50.

De acordo com o pesquisador da Embrapa Cerrados Lourival Vilela, o “boi safrinha” é uma alternativa que está em expansão pela simplicidade do sistema. Ele citou o exemplo da Fazenda Triunfo, em Formosa do Rio Preto (BA), em que na área de 200 hectares foi feito inicialmente consórcio de milho e braquiária e depois pasto, nos meses de seca (junho a setembro). O resultado foi um rebanho de dois mil bois. “O produtor pode ter os animais para fazer cria ou recria, vai depender de cada região. Cada fazenda é um desafio”, afirmou.


Eliana Lima,
Jornalista , MTb 22.047/SP
Embrapa Meio Ambiente

Liliane Castelões,
Jornalista, MTb 16.613 /RJ
Embrapa Cerrados